segunda-feira, novembro 06, 2006

Em 1919, nascia Sophia...

O Poema

A Estrela

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
o espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre as quatro paredes densas
de funda e devorada solidão
alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Breyner, Livro Sexto, Ed. Salamandra

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