O Poema
A Estrela
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
o espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre as quatro paredes densas
de funda e devorada solidão
alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner, Livro Sexto, Ed. Salamandra
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