terça-feira, julho 22, 2008

O Polvo

O polvo (...) debaixo de aparência tão modesta, ou de hipocrisia tão santa é o maior traidor do mar. E daqui sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!
Pe. António Vieira

3 comentários:

  1. Cada vez mais actual!

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  2. Um polvo cujos tentáculos não há meio de serem coartados...

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  3. O seu blogue valeu uma viagem muito agradável. Esta citação tambem está muito actualizada e só me resta dizer «OBRIGADO»

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