O polvo (...) debaixo de aparência tão modesta, ou de hipocrisia tão santa é o maior traidor do mar. E daqui sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!
Pe. António Vieira
Pe. António Vieira
Cada vez mais actual!
ResponderEliminarUm polvo cujos tentáculos não há meio de serem coartados...
ResponderEliminarO seu blogue valeu uma viagem muito agradável. Esta citação tambem está muito actualizada e só me resta dizer «OBRIGADO»
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